terça-feira, 22 de novembro de 2011

Selva de pedra



Espio pela janela de um apartamento, no alto de um edifício. 
É noite e abro apenas uma fresta que refresque a sala, pois chove muito lá fora. 
Eles estão debaixo de um toldo...
Sinto compaixão pelo estado deles, mas o que eu posso fazer? 
Toda noite vejo alguns deles caçando lixo ou procurando em bando por abrigo. 
Olho agora pros que estão ali. 
Dois deles começam a brigar. 
Boca no pescoço, pescoço na boca. 
Não vejo sangue, mas pode ser a chuva. 
O perdedor foge – do vencedor ou de sua derrota imagética? 
Então explode na rua um grito de surpresa. 
Foi o último de uma vida. 
O motorista do Fox não desacelera nem por curiosidade. 
É só mais uma vítima do acaso e do descaso. 
É só mais um animal morto nesta cruel selva de pedra.

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